16 de março de 2014

O homem do exército

“Às vezes, quebramos promessas sem ao menos nos dar conta do quão importante elas são. Às vezes, apenas somos feitos de acertos e erros, desejos e moralismo. Acho que nunca consegui lidar tão bem como essas coisas de certo e errado.” (Escrito na primeira página de um dos meus cadernos de faculdade.)


Depois do encontro com Lucas, tudo parecia ter clareado dentro de mim. A semana foi passando e as coisas pareciam ter voltado ao normal. Só na quarta me dei conta que o Carnaval estava chegando e a cidade viraria um inferno – em todos os sentidos mesmo. Flavinho estava cada dia mais amarrado em Vicente, parece que a ginga do capoeirista tinha, realmente, derrubado meu amigo. Mas confesso que ficava feliz em ver o Flavinho feliz. Ele precisava de alguém que o fizesse acalmar o coração um pouco, e os primeiros momentos de uma relação são como uma brisa refrescante de calma e amor.

Lucas resolveu viajar com a mãe para visitar uns parentes que moravam no Sul do país. Como eu estava atolado de coisa do curso de especialização e não tinha a menor chance de pedir folga na agência faltando pouquíssimos dias para o Carnaval, acabei não podendo ir junto. Seria bom para ele ter um tempo com a mãe e seria ainda melhor um tempo para mim, já que Lucas não desgrudou um dia do meu pé depois da nossa conversa no domingo.

Sexta chegou e, como não tinha plano algum para o fim de semana, resolvi conhecer o apartamento de Pedro. Desde que ele chegou, estava devendo essa visita. Mandei mensagem logo pela manhã para ele perguntando se ele estaria em casa. “Peu, tudo em ordem por aí? Pensei em passar aí depois do trabalho para, enfim, conhecer o lugar onde você se esconde. Se já tiver alguma coisa planejada, podemos combinar outro dia. Não se preocupe. Beijos. Mateus”. Não demorou muito, recebo a resposta. “As portas estarão sempre abertas pra você, não precisa pedir. Rs. Sem planos para a noite. Te espero as sete. Beijos. Pedro”.

Saí do trabalho, comprei algumas besteiras para gente comer e fui em direção ao endereço que ele me passou. Pedro morava perto lá de casa, um prédio bacana, condomínio grande, dividia apartamento com outro menino que também veio da nossa cidade, mas que tinha aproveitado a proximidade das festas e as férias do curso para ficar com a família. Apartamento 202, toquei a campainha e alguns segundos depois Pedro atendeu.

- Oi. Demorou muito para encontrar o prédio? – falou com um sorriso enorme no rosto e uma simpatia típica do Pedro que eu conheci há anos.
- Nada, acho que, com esses anos por aqui, já deu para familiarizar com a cidade. Além do mais, você mora perto de mim. Então, moleza! – falei piscando o olho e retribuindo o sorriso. – Trouxe algumas coisas pra comermos, enquanto você me conta como está a vida nessa cidade grande.
- Não acredito, Mateus. Tinha arriscado meu primeiro bolo de chocolate porque você vinha. Olha só você estragando as coisas – falou rindo.

Pedro tinha realmente virado um homem e tanto. O cabelo bem baixinho intensificou os traços fortes do seu rosto. O maxilar mais delineado, os olhos que traziam a expressão de macho e o sorriso largo de lábios grossos que, para sempre, me remeteriam ao nosso tempo de menino, quando fizemos promessas bobas de amor, fidelidade e parceria. Ele vestia uma bermuda surrada e uma regata branca bem simples, que destacava ainda mais seu tom moreno de pele.

- Deixa suas coisas aí e vem conhecer meu apartamento – falou me puxando pelo braço. – Não é grande, mas acho que, para um começo, deu para me acomodar bem. Ainda estou arrumando tudo aos poucos com as coisas que consegui trazer. Não repare na bagunça, ainda tem algumas caixas para desembrulhar. Com a correria da faculdade, ainda não tive tempo de ajeitar tudo.

Entramos no seu quarto e, realmente, ainda havia algumas caixas ao lado para serem arrumadas. Cheguei perto e encontrei sua farda jogada em uma das caixas e um cassetete. Peguei, olhei para ele e ri.

- É, resolvi desocupar meu quarto todo antes de vir e trouxe comigo. Talvez servirá para outra coisa, né? O Carnaval está vindo aí, dizem que as pessoas gostam de se fantasiar por aqui.

A malícia de cada palavra me fez tremer, mas preferia acreditar que ele iria mesmo usar aquela fantasia no meio da avenida ou com outros foliões. Deixei a roupa e o cassetete em cima da cama e voltei para as caixas. Logo em cima de uma, um álbum de fotos. Apanhei e abri. Na hora, não contive o riso e praticamente folheava o álbum hipnotizado. Eram as fotos da nossa adolescência. Nossa viagem para Porto Seguro, o primeiro aniversário de Pedro depois de começarmos a namorar, o dia em que sua irmã nasceu e fomos visita-la, o anel de coco em seu dedo naquela foto em que estávamos sentados na grama do colégio. Parecia que tudo aquilo tinha sido ontem, meu coração sorria com a mesma intensidade que meus olhos.

Ao fechar o álbum e colocar de volta na caixa, sinto alguma coisa me prender pelo pescoço. Era Pedro que, ao mesmo tempo, encostava seu corpo atrás do meu e sussurrava em meu ouvido. “Acho que chegou a hora de você descobrir o quanto eu aprendi naquele exército, não?”. Ca-ra-lho, eu não sabia o que fazer naquele momento. Não adiantava negar para mim mesmo, o desejo de ter aquele homem, que um dia foi o meu menino, foi algo que aconteceu desde a primeira vez em que o reencontrei. Mas tê-lo ali, fardado e me apertado por trás, era algo que nem nas minhas melhores fantasias eu imaginaria.

Pedro me virou bruscamente para ele e seus olhos pareciam ainda mais famintos. Segurou com força minha cintura e, dessa vez, me beijou com ainda mais vontade que na festa. Sem pudor algum, Pedro foi abrindo os botões da minha camisa até tirá-la completamente. Eu não sabia como reagir àquilo tudo, preferia deixar que ele conduzisse toda a situação, pelo menos no começo. Já que havia sido instigado a conhecer aquilo que o transformou em homem, queria experimentar o que ele tinha a me mostrar. Foi exatamente isso que eu o disse no pé do ouvido, já sem camisa. “Então me mostra tudo o que você aprendeu, vá”.

Pedro jogou tudo que havia na cama para o chão com uma braçada só. Me jogou na cama e foi beijando cada parte do meu corpo até chegar em minha barriga. Abriu o botão da calça jeans e, com pressa, arrancou toda minha roupa de baixo. Pronto, eu estava completamente nu e entregue àquele homem fardado. Ele parou, ajoelhado na cama e apenas me observava, como se não acreditasse que depois de anos, ele tinha novamente meu corpo para ele.

- Acho que está na hora de eu começar a tirar essa roupa, não? – olhei em seus olhos com a mesma malícia que ele usou ao falar mais cedo sobre a sua fantasia. Levantei da cama, ajoelhei em sua frente e fui tirando cada peça de roupa daquele corpo moreno. Só não tirei o coturno e o quepe que ele usava. Queria transar aquela noite com o homem do exército, com todas as suas artimanhas de guerra e armas corporais.

Pedro terminou de tirar a roupa em pé e, sem tempo a perder, não resisti, empurrei ele na cadeira que parecia aguardar ansiosamente uma utilidade e o chupei ali mesmo. Se ele havia aprendido algumas coisas, não duvide que eu fiquei bem melhor do que nos tempos de meninos. Lambia cada pedaço dele e chupava com ainda mais intensidade, desconhecendo qualquer limite de profundidade. Pedro revirava os olhos e segurava com força em meus cabelos, como se aquilo fosse aumentar sua resistência em não chegar ao orgasmo cedo demais.

Sabendo que não iria aguentar por muito tempo, Pedro me puxou para a cama, virou meu corpo contra o dele e, com a mania excitante de falar no pé do ouvido, disse que agora era a sua vez. Me deitou de bruços e foi lambendo da minha nuca até chegar no começo da minha bunda. Mordeu com carinho um dos lados e me fez um dos melhores orais que já recebi na vida. Pedro me chupava com tanta intensidade que agora era minha vez de não saber se resistiria por muito tempo. Eu gemia, contorcia na cama e apertava o travesseiro, era minha única arma de controle.

- Quero te ter completamente, como nunca tive – Pedro me pediu, como se eu fosse capaz de negar alguma coisa naquele momento. Eu não conseguia responder por nenhum sentido do meu corpo que não fosse influenciado pelo prazer.
- Vai. Faz o que você quiser de mim, Peu. Hoje, sou seu!

Pedro pegou a camisinha na cômoda ao lado da cama, colocou em seu pau e lubrificou bastante minha bunda. Acho que nunca estive tão relaxado como aquela noite. Olhando em seus olhos, Pedro colocou minhas pernas em seu ombro e, aos poucos, foi se encaixando dentro de mim. Não posso negar que incomodou no começo, a grossura do pau de Pedro era um esforço dos grandes aguentar. Mas estava relaxado o suficiente depois daquele oral e, depois de alguns minutos, já conseguia sentir todo o prazer que era ter aquele homem me pertencendo.

Pedro começou a se movimentar e, no lugar do menino carinhoso, apareceu realmente o moreno do exército que eu ainda não conhecia. Pedro foi acelerando de tal forma que as metidas pareciam cada vez mais profundas e intensas. Segurava com força na parte lateral da minha bunda e me comia como se aquela fosse a última transa. Seu rosto era de quem me fazia de bandido aquela noite, com total sentimento de dominação e vontade de expulsar todos os demônios contidos naquele corpo. Mais uma vez, Pedro me colocou de bruços e encaixou novamente seu pau. Dessa vez, eu não tinha muita saída contra aquele peso de músculos em cima de mim. Nossos gemidos e o barulho da cama batendo contra a parede. Nada mais se ouvia naquele apartamento.

Reagi depois de toda sua dominação e decidi que era minha vez de mostrar a ele quem comandava a situação. Deitei ele na cama, lambi todo seu corpo de baixo até em cima e sentei em seu pau. Mordia os lábios a cada pedaço que entrava em meu corpo e olhava para Pedro, como se dissesse “acha mesmo que é só você quem manda aqui?”. Fui me movimentando aos poucos e, em segundos, já estava rebolando em seu corpo sem parar um segundo.

- Isso, rebola para mim, vai.

Era excitante demais ver o tamanho do prazer que eu estava dando a Pedro. Parecia tortura, mas parava todas as vezes que ele dizia estar chegando lá. Depois, sentava com ainda mais força e recomeçava a situação. Ele não aguentava mais segurar, não aguentava mais se esforçar para se manter duro, até que cedi e continuei rebolando sem parar. Pedro, com toda habilidade do seu corpo, já havia se levantado e começava a meter com tanta vontade que o estalo do encontro dos nossos corpos se tornou ainda mais forte que o barulho da cama de madeira.

Pedro me segurou ainda mais forte pela cintura e senti que ele estava gozando. Era como se tudo pulsasse ainda mais forte lá embaixo e, como em uma sintonia muito forte, gozei abraçado naquele moreno que se fez meu homem mais uma vez. Ficamos abraçados por alguns minutos. Eu sentia o cheiro do suor pós-sexo dele, mas ainda era possível lembrar o perfume no pescoço de Pedro, o mesmo que me inebriou naquela noite de samba.

Caímos exaustos na cama e eu deitei em seu peito enquanto recebia seus dedos acarinhando meus cabelos.

- Não sabia que você tinha se tornado esse homem todo, Peu. Acho que todos os caras poderiam ir ao exército antes de experimentar a vida sexual – rimos.
- Você está ainda mais incrível. Intenso. Delicado. Gostoso.

Naquele momento, nada parecia mais importar, só aquele papo sem pretensão de ir muito longe. Até que Pedro me abraçou e, sem querer, reascendeu todas as incertezas e dúvidas que existiam.

- Quais as possibilidades de eu ter esse menino branquinho novamente para mim?

Olhei sério para ele, como se o nome de Lucas tivesse sido evocado naquela hora. Coloquei a mão no cabelo, fechei os olhos e me dei conta do tamanho da besteira que tinha feito.

- Não sei, Peu. Não sei.

Levantei, me vesti, terminei de me ajeitar no banheiro e disse que precisava ir porque Flavinho havia me ligado e precisava de mim com urgência. Menti porque não aguentava mais dividir aquele lugar, que deveria ser de carinho, com o tamanho da minha culpa. Beijei seu rosto, agradeci pela noite e disse que depois nos falávamos.

Bati a porta e os olhos já estavam marejados. Respirei, pedi um táxi na porta e coloquei os fones de ouvido. O modo aleatório parece que sempre foderá com sua vida quando você já está um caos sentimental. Aquela noite, Talma&Gadelha parecia cantar a trilha sonora do que havia acontecido – ou do que vinha acontecendo. Limpei o rosto, entrei no táxi e decidi não me culpar tanto, por tudo aquilo, aquela noite. Ainda existia um resto de prazer que trouxe comigo daquela cama. Ainda existiam as marcas das mãos de Pedro em meu corpo. Amanhã, talvez, tudo isso já tenha desaparecido e eu não precise despejar tanta culpa em uma história de lembranças e desejos. 

Mateus

2 comentários:

Unknown disse...

Ounw! Vocês são uns lindos, cada história, cada momento. Parebéns! e não parem.

xo xo

administrador disse...

Intenso. Mas senti falta do bolo de chocolate do Pedro
rsrsrs