17 de fevereiro de 2014

No lençol da minha cama

"- Vai preparar o que pro jantar? – perguntou Vicente numa de suas inúmeras mensagens.
- Ahh... é pra ser surpresa, oras – menti. Já tinha tudo planejado.
- Não me venha com macarrão instantâneo, ok? – respondeu em tom de zombaria. Vicente já sabia que eu não era nenhum chefe de cozinha.
- Mesmo se eu preparar chá com bolachas você vai adorar. Deixa comigo."


Não sei se ansiedade é algo contagioso, mas o fato é que ela me consumiu durante toda aquela sexta-feira, até poucos minutos antes de Vicente chegar para jantar. Questionei quanto a rapidez com que tudo avançava nessa sequência tão bem definida de fatos: conhecer, esbarrar, beijar, mensagens e ligações, encontro no barzinho no fim do dia, jantar. Não que eu estivesse sendo pudico demais, longe disso. Sempre me permiti aproveitar as oportunidades que surgiam pela frente, ainda mais quando se trata de pessoas. Mas cada um tem seu tempo, eu tenho meu tempo, e o aflorar das intenções é o que ditam o ritmo dos acontecimentos.

Eu sabia que o jantar – e eu tinha plena convicção disso quando propus o convite – era apenas um pretexto. Desde o início, Vicente deixou claro o quanto desejava minha intimidade, meu sexo e tudo mais que daí surgisse. Eu também desejava o corpo magro daquele capoeirista cheio de mãos e segredos; um desejo crescente que já pulsava apreensivo dentro de mim e que naquela noite gritava para ser colocado para fora.

Nosso contato durante todo o dia foi bem escasso. Me dei uma folga nos ensaios fotográficos para que pudesse preparar tudo com cuidado. Ele passou o dia na faculdade tendo orientações e finalizando um artigo. Vez ou outra me mandava uma mensagem com um smile qualquer, como se dissesse: “Não esqueci do seu convite. À noite você é meu”. No meio da correria, as mensagens – ou o que elas diziam nas entrelinhas – atiçavam minha imaginação e me arrancavam sorrisos de pura excitação.

Mateus entendeu quando eu expliquei a situação e pedi que ele deixasse o “terreno livre”. Já havia lhe falado sobre Vicente algumas vezes, mas ele andava muito ocupado com suas próprias confusões para prestar atenção ou criar expectativas por mim. Mas agora, sem tantas nuvens negras pairando sobre sua cabeça, não me espantei quando ele se manifestou. “Ê laia, hoje tem!”, disse dando um tapa na minha bunda ao passar por mim. Quis saber detalhes de como estávamos, Vicente e eu. Mas eu não os tinha e não saberia dizer se já era possível definir aquilo como “nós”. 

Já era fim de tarde quando terminei de arrumar a casa e encomendar o jantar. Optei mesmo por comida japonesa, já que ambos adorávamos. Vicente chegaria às nove. Descansei um pouco, largado numa poltrona no canto do quarto, com as janelas abertas para amenizar o calor. Não sei quanto, mas acabei cochilando tempo suficiente para sonhar com a noite de sexo que logo mais teria. Pelo menos era essa a intenção. Acordei sobressaltado, de pau rígido e um pouco lambuzado. Ria da situação enquanto corria para o banho. Logo Vicente chegaria.

Pouco antes das nove tudo estava pronto, a comida já havia sido entregue e eu aguardava meu convidado que certamente não se atrasaria. Vicente chegou no horário combinado usando perfume novo, um tanto mais cítrico do que aquele que costumava usar. 

- Trocou de perfume? – perguntei.
- Esse eu uso em ocasiões especiais – respondeu rindo enquanto se acomodava no sofá da sala.

Sentei ao seu lado completamente à vontade, de bermuda e camiseta. Ele usava uma calça jeans que parecia desconfortável, mas nada demonstrou. O sorriso de Vicente me contagiava e sua espontaneidade era uma característica marcante. Enfim, estávamos a sós e tínhamos uma noite inteira pela frente.

Jantamos ali mesmo na sala, sentados à frente de uma mesinha central onde servi a barca de comida japonesa que havia pedido. Ele adorou o cardápio e confessou que o gosto pela culinária oriental era algo bem recente, prova disso estava na dificuldade com que manuseava o hashi. Fizemos do jantar uma ocasião bem mais divertida, de gargalhadas e conversas agradáveis.

Ainda sentados no chão, recostados no sofá atrás de nós, fizemos silêncio. Segurei a mão de Vicente num impulso repentino de carinho e a apertei sutilmente. Ele correspondeu ao meu toque, mas nada disse. Olhávamos para os pratos vazios à nossa frente, como se evitássemos manter um contato visual antes tão imprescindível. Ficamos ali ligados por nossas mãos que se acarinhavam numa reciprocidade mútua, entrelaçando nossos dedos num contraste interessante de peles.

- O que você viu em mim? – perguntei, quebrando o silêncio de logos três minutos.
- Além de um fotógrafo gato? Não sei dizer. Alguma coisa ligou um alerta aqui dentro e eu percebi que você tem algo de especial – respondeu ainda sem me fitar.
- E o que seria esse “algo de especial?” 
- Huuuum... seu olhar, talvez. É, acho que é isso... seu olhar!

Nos encaramos repentinamente.

- E você, o que viu em mim? – Vicente perguntou sem desviar os olhos.
- Mistério. Você tem um ar misterioso que me prende de alguma forma. Ainda sei bem pouco de você e isso me deixa apreensivo.
- Calma, cada coisa a seu tempo. Você mesmo vive repetindo isso. Eu também sei bem pouco de você, mas acho que vamos ter tempo pra desvendar esses mistérios – disse isso com um sorriso quase debochado. 

Puxei Vicente para um beijo demorado. Sabia que aquela conversa daria voltas e ele continuaria na defensiva. O beijo cessou a conversa de vez, e a partir de então nossos corpos é que dialogariam entre si, quentes e completamente entregues. Percebi que senti falta da boca carnuda de Vicente, de como seus lábios dançavam em contato com os meus e do seu hálito fresco. Foi um beijo intenso. Juntos éramos assim: intensos. 

Desabotoei sem pressa a camisa xadrez que ele usava, revelando seu peitoral coberto por poucos pelos. Ele gostou de me ver tomando a iniciativa, numa demonstração de que eu o queria tanto quanto ele me queria. Depois de abrir o último botão, tirei eu mesmo a minha camiseta. Vicente sorriu e me abraçou. Nossos corpos estavam quentes e eu pude sentir as batidas do seu coração acelerado.  

- Acho que essa é a hora em que você me leva para o seu quarto – sussurrou ao meu ouvido em tom de provocação.

Levantei de supetão e estendi a mão para ajudá-lo a se levantar. De mãos dadas, guiei Vicente pelo corredor até meu quarto. Lá dentro, o agarrei pela cintura e nos beijamos mais uma vez. Já sentia seu pau duro escondido sob a calça; tão duro quando o meu, que latejava de tanta excitação. Se antes eu recriminava a mão boba de Vicente, naquele momento era a minha mão que percorria o corpo dele, apertando com vontade sua bunda.  Em poucos minutos estávamos completamente nus. Não falávamos nada, mas o atrito entre nossos corpos quase foi capaz de fundi-los. Vicente tinha um corpo rígido, de músculos firmes e discretos. 

Ele me chupou por alguns longos minutos e quase me fez gozar. Fiz sinal para que ele parasse e o empurrei na minha cama. Vicente caiu de bruços, com a bunda saliente virada pra mim. Me deitei sobre ele, beijando sua nuca e pressionado meu corpo contra o dele em movimentos lentos. Prossegui com os beijos demorados ao percorrer suas costas, sentindo seu cheiro e percebendo seus pelos eriçarem a cada centímetro desbravado pela minha boca. 

Quando mordi sua bunda, ele gemeu. Continuei a provocar só para ouvi-lo sussurrar baixinho. Com jeito, separei suas nádegas com as mãos e encaixei ali minha língua. Lambi o cu de Vicente saciando meu desejo de sentir o gosto da sua intimidade. Ali desvendei o primeiro dos mistérios. Ele gemia e se contorcia. Minha língua, já em movimentos acelerados, o lambia com mais vontade. 

Voltei a beijar sua boca e percebi Vicente completamente hipnotizado. Era sensível ao meu toque e estava completamente em minhas mãos. O chupei pela frente, seu pau grosso ganhando espaço na minha boca em investidas rápidas. Era difícil controlar. Eu queria levá-lo à loucura e ele permitia que minha boca lhe sugasse o sexo, enquanto minhas mãos lhe massageavam a bunda, que se contraía como se emitisse uma mensagem logo captada por mim. Vicente voltou a ficar de bruços e eu tornei a lambê-lo por trás.

- Quero você dentro de mim – ele disse aos sussurros.
- Não precisa pedir duas vezes – respondi com um sorriso safado.

Obediente, peguei o preservativo que trazia dentro do bolso da bermuda jogada ao chão e revesti meu pau. Beijei suas costas da base da coluna até a nuca, bem devagar, provocando e atiçando sua ansiedade tão costumeira. Deitei sobre ele, abrindo suas pernas para poder encontrar o encaixe perfeito entre nós dois. 

Penetrei Vicente bem devagar, ainda lubrificado pela minha saliva. Ele queria aquilo e estava tão relaxado que meu pau praticamente deslizou para dentro dele. Ele se contorceu quando me sentiu tocá-lo por dentro e riu; seus dentes brancos formando um arco que pedia, desesperadamente, mais de mim. Meus movimentos aceleravam ao passo que Vicente se esvaia numa respiração ofegante e encontrava, embaixo de mim, o ritmo daquela coreografia, do nosso momento, do nosso sexo. 

Mudamos de posição. Queria olhar para Vicente e vê-lo entregue, sentindo tudo que eu tinha a oferecê-lo naquele momento: meu pênis completamente duro e meu desejo de fazê-lo feliz ali, em minhas mãos. Agora eu comia Vicente olhando em seus olhos. Deitado com as costas grudadas ao colchão e as pernas apoiadas em meus ombros, ele gemia e pedia que eu não parasse. Investia contra o corpo de Vicente estocadas tão rápidas quanto a sequência dos fatos que nos levaram até ali. 

Num movimento ágil, que eu não saberia explicar nem daqui a mil anos, Vicente dominou a situação e veio por cima de mim. Era o do capoeirista entrando em ação, cheio de gingado e malícia. Os músculos do seu abdômen se contraíam enquanto ele rebolava o quadril sobre mim. Ele mordia os lábios e movia-se incansável. Eu tinha olhos de êxtase e quase gozei.

Vicente se levantou e ficou de quatro pra mim, completamente sedento. Meu corpo procurava reunir forças para segurar a explosão que certamente não demoraria a chegar num orgasmo ensurdecedor. Meti mais uma vez e Vicente gemeu alto com minhas rápidas investidas. Ele se masturbava num ritmo além. Sua mão era quase um borrão envolvendo seu pênis. Vicente gozou primeiro, com jatos contínuos de sêmen alvo e consistente; urrava a cada jorro que saía do seu corpo. Eu gozei em seguida, ainda dentro dele, ainda fazendo parte dele. Meu corpo se contorceu e minhas pernas tremeram. Caí sobre ele em completo desgaste físico. 

Ficamos ali deitados, ainda ligados pelo suor e pelo cheiro do nosso sexo ainda no ar, no lençol da minha cama. Era difícil dizer qualquer coisa que não soasse clichê ou cafona, mas minha vontade era gritar “QUE FODA INCRÍVEL!”, e acordar toda a vizinhança. Percebi Vicente de olhos fechados, não adormecido, mas como se pensasse um turbilhão de coisas ao mesmo tempo.

- Pensando em quê? – perguntei.
- Nada não – respondeu evasivo.
- Tem certeza de que não quer falar?
- Não. Apenas não sei se devo – Vicente desprendeu-se de mim e me jogou de lado. Olhava pra mim aflito.
- Fale, uai. Independente do que seja, vai ficar segurando isso pra quê? 
- Quer ser meu namorado? – falou decido. Nos olhos, o olhar vivo do capoeirista do farol.

Flávio

Um comentário:

administrador disse...

Finalmente temos tido dias nublados em Goiás. Fico maravilhosamente inspirado e conectado às tensões da minha sensibilidade. Enfim, foi ótimo ler tudo isso. Traz tanta esperança rsrs :)