11 de janeiro de 2014

Onde tudo começou

"- Tô descendo agora, vai também?
- Não, Flavinho. O Lucas tá passando aqui, a gente precisa conversar!
- Olha lá, vê se os dois não vão brigar de novo. Cansei de te ver amuado pelos cantos. Você já sabe o que eu penso.
- Sei sim."


Há mais de cinco anos, eu dividia apartamento com o Flávio. Apartamento só não. Dividia a vida, né? Quase casados, só que sem uma das partes boa da coisa: não transávamos. Os dilemas da agência, os rolinhos do final de semana, as crises dos namoros, o choro de saudade de casa e as várias baladas de pura curtição. É, acho que ele saberia falar muito mais sobre mim do que qualquer outra pessoa.

Tinha 17 anos quando cheguei aqui em Salvador. Do interior, moleque branquinho e mirrado, vim carregando duas malas: uma cheia de roupa e outra cheia de sonhos. A de sonhos certamente estava vazia de experiências, mas as ruas e os homens da capital iriam me ensinar muita coisa e mais cedo do que imaginava. Por falar em homem, nunca sei dizer quando eles surgiram em minha vida e quando eu olhei para o espelho e disse: sou gay. Talvez uma ou duas crises aos 14 anos, mas nenhuma depois. Eu era homem e gostava de homem, só não sabia como explicar aquilo em casa. Mas esse papo fica para outra hora!

Vim fazer Publicidade, ser gente grande na capital. Rs! Fiquei um mês na casa da Tia Bete, uma quase mãe, só que sem o excesso de cobrança. Bete sempre têm as palavras mais certas para os momentos mais trashes da vida. Mesmo me fazendo sentir em casa, não queria ocupar o quartinho que foi do Marcelo, filho dela que fazia intercâmbio no Canadá, por muito tempo.

Primeiras aulas na faculdade, turma animada e logo veio o famoso trote. Depois de toda aquela zona, a melhor parte havia chegado: encher a cara no boteco mais popular da galera. Pessoal de Publicidade é bem mente aberta e minha turma tinha bastante gente de outras cidades. Ou seja, todo mundo pouco se fodendo para o que as pessoas falassem e muito dispostos a experimentar. Experimentar copos, cores, corpos e sensações. Experimentar acabou virando a palavra de ordem por muitos meses.

Entre uma cerveja e outra, fui conhecendo alguns colegas e trocando ideia com os veteranos. Sempre fui muito tímido, mas quanto mais álcool ia entrando, mais aberto a novos papos eu ia ficando. Na turma tinha umas meninas bem gostosinhas, alguns caras interessantes e tinha o Flávio. Fala mansa, caladão, um típico mineiro – só mais tarde eu ia descobrir de onde veio tanta simpatia guardada. Flávio também estava na mesma que eu. Procurando um lugar para chamar de seu pelos próximos quatro anos e logo. Estava em uma dessas pensões feita para estudante que acaba de chegar e não tem outra opção.

Tomamos umas quatro cervejas e o papo andava de uma forma tão gostosa que parecia que a gente se conhecia há anos. Assim que ele me disse da possibilidade de alugar um apê para dividir com alguém, mostrei logo interesse em ser a parte dois da história. Dito e feito, uma semana depois encontramos o lugar mais confortável e gostoso dos próximos anos. Apartamento 402: o lugar onde nossas histórias iriam dar voltas e reviravoltas em noites de lágrimas, cafunés e orgasmos.

Mateus

2 comentários:

Marlon Botelho disse...

Estava precisando de um blog desses.
Ansioso pelas próximas postagens!

Unknown disse...

Muito interessante ... To gostando .